A aprovação da “lei russa” na República da Geórgia.

Na terça-feira, dia 14, ocorreram manifestações na República da Geórgia, contra uma lei que exigirá que ONG’s e meios de comunicação que obtenham mais de 20% de financiamento do exterior, tenham registro público, e que servem aos interesses de uma potência estrangeira. Ademais o texto propõe a obrigação de apresentação de demonstração financeiras, e concede ao Ministério da Justiça amplos poderes para monitorar a lei, inclusive sob aplicação de multas.

Situada ao sul da Rússia, no ano de 2008 a Geórgia travou uma guerra de 16 dias com o país vizinho (Rússia), ocasionando na perda dos territórios da Abkhazia e da Ossétia do Sul. Foi a primeira campanha de Putin para restaurar a glória russa, ao tentar trazer à sua influência aos territórios que faziam parte da ex-URSS. Naquele mesmo ano, em Bucareste, capital da Romênia, a Cúpula da OTAN fez um plano de futura adesão da Ucrânia e da Geórgia, porém as potencias francesas e alemãs rejeitaram a proposta por serem duas nações instáveis. A desilusão georgiana com o Ocidente veio com a não-ajuda esperada quando do conflito com os russos, sentimento que até hoje permeia o país.

A política georgiana é marcada pela influência do oligarca Bidzina Ivanishvili, que fora um dos grandes financiadores da reeleição de Boris Yéltin na Federação Russa. Primeiro-Ministro em 2012-2013, é nos bastidores que o empresário e político exerce seu poder, se aproximando da Rússia comercialmente inclusive. É importante citar que após a pandemia e com a guerra na Ucrânia em 2022, o país recebera novos estímulos e voltou a crescer, principalmente pela ida de imigrantes russos para fugir do serviço obrigatório e abrir empresas (em 2 dias uma empresa pode ser aberta, sem muita burocracia).

Em dezembro do ano passado a União Europeia concede o status de candidato à entrada no bloco.  Porém essa semana, com a proposta da “lei russa” ou “lei sobre agentes estrangeiros”, caso entrar em vigor, minaria a pretensão do país em entrar no bloco. Durante o sábado, 18, a presidente do país Salome Zurabishvili veta a lei, porém cabe lembrar que o partido que propôs tem a maioria do Parlamento e pode derrubar o veto presidencial.

A Geórgia é uma país que vive com um dualismo, de um lado preso à influência da Rússia, além de laços culturais e presença militar (há tropas russas em solo desde a guerra de 2008). E de outro lado, um país com cerca de 80% da população que quer aderir à União Europeia. Distante geograficamente da Europa Ocidental, o país se encontra em uma encruzilhada: ir em direção ao Ocidente e correr o risco de acontecer o mesmo que a Ucrânia, ou se aproximar do Kremlin e perder a chance de uma promessa (quiçá a ser cumprida) de virar membro da União Européia. Para aumentar ainda mais a pressão, haverá eleições parlamentares marcadas no país em 26 de outubro deste ano, prometendo mais tensão na região do Cáucaso.

Os Estados Unidos aumentam tarifas de produtos chineses.

Durante a semana mais um capítulo das tensões comerciais entre as duas maiores economias, Estados Unidos e China, fora escrita. Com o argumento de proteger empresas e trabalhadores norte-americanos, e alegando práticas injustas de concorrência, o Tio Sam elevara as tarifas de muitos produtos chineses, destacando-se:

Veículos elétricos 25% para 100%

 Semicondutores 25% para 50%

 Aço e alumínio 7,5% para 25%

 Seringas e agulhas 0% para 50%

 Baterias de íon lítio 7,5% para 25% Esse aumento ocorre em um momento em que a indústria de carros elétricos e painéis solares chineses começam a ganhar espaço frente aos mercados das tradicionais fabricantes norte-americanas (GM, Chevrolet etc.) e europeias (alemãs e francesas por exemplo). A notícia não agradou a China, que já começa a estudar uma retaliação frente aos produtos norte-americanos e que certamente vai ser conhecido em breve.

Atentado contra o primeiro-ministro eslovaco.

O primeiro-ministro eslovaco Robert Fico sofreu uma tentativa de assassinato e permanece em estado grave. Dos cinco tiros disparados apenas um acertou o político, na região do abdômen.

Localizada na Europa Central, fazia parte da Checoslováquia,  até então sob esfera da União Soviética. Em 1993 o país se dissolve após protestos pacíficos, que ficou conhecido como Divórcio de Veludo, e origina o surgimento de Duas nações independentes: a República Checa e a Eslováquia. Em 1998 um governo de centro-direita toma o poder sob a liderança do 1º Ministro Mikulas Dzurinda, empenhado na integração com a Europa, e que em 2004 os esforços fazem o país aderir à OTAN e à União Européia.

Em 2006 o governo é substituído por um populista nacionalista de esquerda, sob a liderança de Robert Fico. Sob seu governo algumas medidas de política externa foram bem polêmicas e contrárias a da maioria dos parceiros da UE e OTAN. Dentre elas, a recusa em reconhecer a declaração de independência do Kosovo (2008), oposição a sanções contra Moscou quando da invasão da Criméia em 2014, e a rejeição em acolher alguns dos cercas de 1 milhão de imigrantes em 2015.

Em 2018, Fico e seu governo já demonstravam que a popularidade estava em baixa, com acusações de um crescente autoritarismo e corrupção desenfreada. O estopim e que culminou com sua saída, foi o assassinato de um jornalista que investigava políticos que tinham ligações com o crime organizado. Pressionado, pediu demissão, e viu a Eslováquia ir em uma nova direção com a chegada do poder de um governo de direita. Em fevereiro de 2022 com a invasão da Ucrânia, o novo governo alinhou-se à União Européia e OTAN, aderindo a sanções contra Moscou, abrigando refugiados e até fornecendo armas à vizinha Ucrânia.

Entretanto, nas eleições de 2023, Robert Fico se aproveitou de um sentimento popular e saiu vencedor para um terceiro mandato. Adotando uma postura pró-Rússia, argumenta que as sanções prejudicam a economia eslovaca, além, de chamar a Ucrania de corrupta e sob o domínio norte-americano. Ademais, sugere que Zelensky deva aceitar a perda de território como um preço pela paz, além de reiterar sua oposição à adesão dos ucranianos à OTAN.

A tentativa de assassinato do líder eslovaco demonstra a fragilidade dos políticos quanto à polarização e radicalização em que nos encontramos hoje em dia. Em 2021 por exemplo, houve o assassinato do presidente haitiano Jovenel Moise e a tentativa para com o primeiro-ministro iraquiano Mustafa Al-Khadimi. Já no ano seguinte, dessa vez com a tentativa da vice-presidente argentina Cristina Kirchner, e o assassinato do primeiro-ministro do Japão, Shizo Abe.

O tumulto na Nova Caledônia.

A longínqua ilha da Nova Caledônia, localizada ao sul do Oceano Pacífico, passa por uma turbulência. O país que é um Departamento Ultramarino da França, enfrenta uma semana de tumultos e violência, originados por uma lei feita pelo Parlamento francês, e que ainda deve ser assinado pelo presidente Emmanuel Macron.

A ilha foi anexada pela França em 1858, e somente após a 2ª Guerra Mundial virou território ultramarino da potência européia (1946). Durante os anos de 60 e 70 eclodiram movimentos de independência, com diversos protestos e manifestações. Porém, somente em 1988 a França concede mais autonomia ao país, com a assinatura do Acordo de Nouméa. Um dos pontos importantes é que fora concedido o direito à voto a quem vivia na ilha antes de 1998, incluindo seus filhos.

Embora já foram feitos referendos de independência, em 2018 e 2020, a escolha em continuar com a França predominou. Os descendentes franceses (chamados de caldoches), querem que o país continue fazendo parte da França, contrastando com os kanaks, grupo étnico de melanésios que habitam a região e com tendencias pró-independência. É sabido que a dependência econômica da Europa (França) tem impacto nos referendos, sendo um os principais motivos do porque o país não se tornara independente até hoje.

O estopim dos protestos desta semana foi a reforma da Constituição aprovada pelo Parlamento francês, que estendeu o direito ao voto nas eleições à franceses que vivem há mais de 10 anos no país, contrariando o Acordo de Nouméa, citado anteriormente. Os protestos tomaram o país como forma de chamar a atenção para que Macron não assine, os grupos pró- independência têm medo que seu peso político seja afetado. Ademais alegam que a lei vai beneficiar os caldoches e acabar marginalizando os kanaks.

É importante destacar que a França detém bases aéreas e navais no país, e, assim como a Inglaterra, precisam demonstrar que continuam potências globais ( embora com menos peso que a China por exemplo) e por isso mantém territórios em diversos continentes, mesmo que longínquos. Um adicional é o fato da Nova Caledônia ser o 4º maior produtor mundial de níquel do mundo, atrás apenas da Indonésia, Filipinas e Rússia. Para a França é importante ter acesso a recursos e evitar que se repita o episódio como o recente no Níger (produtor de urânio), na África, com a expulsão das tropas e empresas francesas do país.

Ademais, a turbulência na região não tem somente um impacto político, social e militar, mas econômico, cujo aumento no preço das comodities tenderá a aumentar.

Visita oficial de Vladimir Putin à Pequim.

Na quinta-feira, 15 de maio, o presidente russo Vladimir Putin fez uma visita oficial de dois dias à capital chinesa Pequim. Recebido por honras militares, e com uma delegação com grande número, que incluiu o ex ( Serguei Shoigu) e o atual Ministro da Defesa russo Andrei Belousov.

 A visita veio ao encontro do 75º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países, e mostrou uma imagem de parceria sólida. É interessante notar que essa foi o 43 º encontro dos dois desde que Xi Jiping assumiu o poder.

A proposta é de demonstrar uma força estabilizadora ao mundo, cuja a alegação é de que o Ocidente é que produz o caos, além da necessidade de conter a influência norte-americana, segundo eles é a principal causadora dos problemas em vários países.

Os chineses vêm demonstrando serem os grandes fornecedores tecnológicos à uma Rússia cada vez mais isolada mundialmente, devido a sanções com a invasão na Ucrânia. Um tema que fora debatido além da continuidade desse fornecimento, é a proposta de uma parceria maior no setor bancário, com fluxo de pagamentos entre os dois não dependendo mais dos mecanismos ocidentais.

Simbolicamente a ida de Putin ao Zhongnahai (中南海), antigo jardim imperial e atual complexo que abriga o escritório do Partido Comunista Chinês e residência do conselho estatal é uma demonstração da importância de Putin. É importante lembrar que poucos líderes mundiais tiveram acesso ao local até hoje.

Ademais, a ida de Putin à Pequim foi dar um recado ao mundo, provando que a Rússia tem um aliado poderoso ao seu lado. Já Xi Jiping, precisa desse aliado chave na busca de uma nova ordem que até então é liderada pelos Estados Unidos. A questão é que Putin precisa do capital chinês para continuar a guerra na Ucrânia e Xi Jiping tem de fazer um equilíbrio entre a sua amizade com Putin e estabilizar laços econômicos com o Ocidente, o qual precisa para manter sua economia em ascensão, um exemplo disso foi sua ida na semana passada à França, Sérvia e Hungria.

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